Os Desafios da interculturalidade no Contexto da Diversidade Religiosa na Escola: O Problema do Preconceito Religioso e da Discriminação - Trabalho

 

FP078 - Interculturalidade e educação

Trabalho conv. ordinaria

INDICAÇÕES GERAIS:

O trabalho dessa disciplina consiste será realizado em grupos de 4 ou 5 estudantes. Cada grupo identificará um problema relacionado com a interculturalidade que esteja se apresentando num contexto escolar real. A partir desse problema, deverão:

  1. Descrever as particularidades do problema, a partir dos referentes do modelo crítico de educação intercultural e a bibliografia da disciplina.

  2. Partindo da descrição realizada, o grupo deverá desenhar uma intervenção para o desenvolvimento intercultural do problema identificado. Para tanto, devem considerar os conteúdos discutidos referentes ao modelo crítico:

  • Os critérios para o desenvolvimento da interculturalidade.

  • Um dos enfoques metodológicos.

  • O princípio da diversificação.

Requisitos formais:

  • Extensão: 6 páginas (sem contar as instruções, os enunciados, a bibliografia nem os anexos – se houver–).

  • Tipo de letra: Arial.

  • Tamanho: 11 pontos.

  • Entrelinhas: 1,5.

  • Alinhamento: Justificado.

Sublinhamos o uso da normativa APA para as citações e a lista de referências bibliográficas. Devem ser citados, como mínimo, cinco (5) dos últimos 10 anos. Três desses textos devem ser o resultado de procuras realizadas pelos membros do grupo em revistas científicas, por tanto, não devem coincidir com a bibliografia que aparece na apostila desta disciplina.

Somente poderão fazer o trabalho individualmente estudantes que entreguem ao professor/a, a justificativa devida. Se alguém entregar o trabalho individualmente sem ter a autorização expressa do/da professor/a, não poderá aspirar à nota de excelente, sendo que a nota máxima que poderá obter no trabalho é de 8/10. A capacidade de trabalhar em forma colaborativa é uma das competências transversais que se desenvolvem no curso.

O trabalho deve ser realizado nesse documento Word seguindo as normas de apresentação e edição quanto a citações e referências bibliográficas (ver o Guia de Estudo).

A entrega deve ser feita seguindo os procedimentos descritos documento de avaliação da disciplina e em hipótese alguma deve ser entregue através do e-mail do professor ou professora correspondente.

Por outro lado, lembramos que existem alguns critérios de avaliação, que é de suma importância que os alunos sigam. Para mais informações, consulte o documento de avaliação da disciplina.

Trabalho

Identifiquem um problema relacionado com a interculturalidade que esteja se apresentando num contexto escolar real. A partir desse problema, deverão:

  1. Descrever as particularidades do problema, a partir dos referentes do modelo crítico de educação intercultural e a bibliografia da disciplina.

  1. Partindo da descrição realizada, o grupo deverá desenhar uma intervenção para o desenvolvimento intercultural do problema identificado. Para tanto, devem considerar os conteúdos referentes ao modelo crítico:

  • Os critérios para o desenvolvimento da interculturalidade

  • Um dos enfoques metodológicos

  • O princípio da diversificação

Muito importante: Na capa que aparece na página seguinte, devem indicar-se os dados pessoais que se detalham e o título do trabalho (o trabalho que não cumpra as condições de identificação não será corrigido). Após a capa, deve-se incluir o Índice do trabalho.


INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO



OS DESAFIOS DA INTERCULTURALIDADE

NO CONTEXTO DA DIVERSIDADE RELIGIOSA NA ESCOLA:

O Problema do Preconceito Religioso e da Discriminação


Jorge Nazareno Neto Schemes

Curso: Mestrado em Educação




FEVEREIRO DE 2023



ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

Pág. 05

2. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

Pág. 08

3. DESENHO DE INTERVENÇÃO

Pág. 09

4. AVALIAÇÃO GERAL

Pág. 16

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pág. 17


1. INTRODUÇÃO

Diante da diversidade cultural e religiosa presente no território brasileiro e consequentemente dentro das escolas, é imperativo analisar e provocar uma reflexão sobre as diferentes e possíveis abordagens para o problema do preconceito religioso no ambiente escolar e da discriminação, bem como os desafios para aprender a conviver com o diferente. Há três caminhos que podem ser percorridos na tentativa da construção de uma cultura da paz no contexto da diversidade religiosa que se manifesta dentro da escola enquanto instituição laica de ensino, ou seja: Multiculturalismo; Pluriculturalismo; Interculturalidade.

Considerando que, segundo FUNIBER (2023), o multiculturalismo envolve a multiplicidade de culturas que existem num determinado espaço, e que “é entendido como um relativismo cultural; quer dizer, uma separação ou segregação entre culturas, sem aspecto relacional”, pode-se deduzir que tal abordagem é insuficiente para dar conta da diversidade religiosa presente no âmbito escolar. Todavia, conforme expõe FUNIBER (2023), apesar da distinção entre o multiculturalismo e o pluriculturalismo ser sútil e mínima, vale ressaltar suas pequenas diferenças. Sendo assim, considerando o contexto geográfico, político, cultural e religioso do Brasil, o pluriculturalismo destaca-se como um dos conceitos mais utilizados na América Latina, “a pluriculturalidade expressa a necessidade de representar as especificidades da região […] indica uma convivência de culturas num mesmo espaço territorial, mesmo que a inter-relação equitativa não seja profunda.” (FUNIBER, On Line, 2023)

Assim sendo, a pluriculturalidade limita-se à descrição de uma realidade, sem promover mudanças ou intervenções nela. Também não questiona a maneira em que a colonialidade segue operando dentro de si, no sentido de radicalizar e subalternizar seres, saberes, lógicas, práticas e sistemas de vida. (FUNIBER, On Line, 2023)

Nota-se a partir da citação acima que a proposta do pluriculturalismo também é insuficiente para promover a paz, a tolerância, o respeito e principalmente o diálogo inter-religioso entre as diferentes religiões, crenças, práticas de fé e filosofias de vida presentes nas salas de aula de milhares de escolas no Brasil. Além disso, por outro lado, considerando que a matriz religiosa predominante na cultura brasileira é a judaico-cristã, o pluriculturalismo pode favorecer um etnocentrismo cultural e religioso em detrimento das demais minorias religiosas presentes na sociedade brasileira e também presentes no meio escolar.

Como apresenta FUNIBER (2023), a interculturalidade foi concebida da América Latina e envolve a possibilidade de transformação da sociedade e dos sistemas de ensino envolvendo o reconhecimento e a conscientização da diversidade cultural.

Nessa direção, apontando limitações do enfoque multicultural, Aristizabal (2001, p.88), argumenta que: O multiculturalismo não se pode dar ali: só no reconhecimento de que somos diferentes. É necessário avançar até a interculturalidade, para que os diferentes grupos que conformam a nação possam tomar consciência sobre o que uns e outros temos aprendido do outro. Interculturalidade: Reivindicar o direito à diferença; Demanda um novo lugar para o ‘diferente’ nas sociedades nacionais. (FUNIBER, On Line, 2023)

Percebe-se a partir dessas ideias que a abordagem do interculturalismo pode ser o melhor caminho para o enfrentamento do preconceito religioso nas escolas, uma vez que a “interculturalidade: não se esgota com o reconhecimento do pensamento dos outros, é necessário um diálogo que desconstrua e reconstrua maneiras outras de ver e interagir com os ‘outros’ além do modelo colonial.” (FUNIBER, On Line, 2023)

Interculturalidade, portanto, supõe um diálogo, uma interlocução intercultural como condição para sua construção. Consiste em apostar por uma relação de respeito entre culturas, orientado-se à busca de novas ‘sínteses culturais’ […] a permanente interação que as permeia e as modifica. […] Defende que o diálogo transcultural é desejável normativamente, e que dele se devem extrair maneiras complexas, mas, não segregacionistas de convivência social. (FUNIBER, Online, 2023)

Diante do exposto, a Interculturalidade parece ser um caminho possível para possibilitar o respeito, a alteridade, o diálogo e a reverência com o totalmente outro, com o diferente, incluindo nessa categoria a nós mesmos. Nesse sentido aponta a filosofia de LEVINAS (2018), o qual defende a ideia de uma ética primeira voltada ao outro, a ética da alteridade, numa relação face a face com o outro ser humano. “Levinas valoriza a alteridade para colocar a ética como metafísica primária [..] sua proposta ajuda-nos a superar a individualidade que acompanha a liberdade absoluta e a entender como aquele rosto diante de mim ganha relevância”. (LEVINAS, Online, 2018). Esse pensamento pressupõe que o rosto é a revelação do humano no ser e uma encarnação da ética da alteridade. Em seu livro “Totalidade e Infinito”, Emmanuel Levinas escreveu um capítulo intitulado: “O Rosto”. SCHEMES (2008) faz uma síntese do pensamento de Levinas escrito nesse capítulo, e expõe a necessidade de uma fundamentação ética na aplicação do Interculturalismo crítico como processo e projeto.

O rosto, como manifestação do humano é paradoxal, pois é ao mesmo tempo objetividade e subjetividade, tristeza e alegria, angústia e paz, “totalidade e infinito”. O rosto é manifestação e mistério; é concretude e idealismo. O rosto é a expressão do humano que se impõe ao anti-humanismo pós-moderno. O rosto do excluído é grito e súplica, e é ao mesmo tempo manifestação ética e exigência ética. Assim, o rosto nos aproxima e nos remete a uma necessidade ética universal. É pelo rosto que o outro nos impõe a urgência de uma “alterconsciência”. Essa “consciência do outro” exige a ética da alteridade como filosofia primeira na prática pedagógica, o que pressupõe uma relação norteada pelo princípio do diálogo e da reverência. A ética da alteridade condena a segregação, a exclusão, os pré-conceitos e pré-juízos, e contempla o acolhimento do outro em sua diversidade. Não é apenas um discurso retórico, mas atitude moral de comprometimento com o diferente. O rosto de cada aluno é a manifestação universal do humano no ser, do totalmente outro, fragmentado pelo mundo pós-moderno da técnica. É o clamor que se expressa sem palavras e que exige uma resposta ética, e ignorá-lo é viver no vazio egoísta da autoconsciência. Desprezar o rosto e sua manifestação caleidoscópica e concreta diante de nós, equivale a ignorar o transcendente. Pois o rosto é o convite ético do infinito na forma finita. Esse convite exige uma resposta, e essa resposta só pode ser possível por meio da ética da alteridade na educação. O rosto também impõe responsabilidade moral, e nos conclama à justiça social, pois é o rosto do outro que estabelece os limites éticos e morais de nossas ações como educadores. Portanto, olhar o rosto do outro é o primeiro passo para o comprometimento ético em sala de aula. (SCHEMES, Online, 2008)

A abordagem intercultural também contempla o que preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso na Rede Pública de Educação a nível nacional.

[…] o conhecimento religioso enquanto patrimônio da humanidade necessita estar à disposição da escola. É preciso, portanto, prover os educandos de oportunidades de se tornarem capazes de entender os momentos específicos das diversas culturas, cujo substrato religioso colabora no aprofundamento para a autêntica cidadania. Essa responsabilidade atribuída à Escola como consequência do projeto educativo, comprometido com a democratização social e cultural, coloca o Ensino Religioso na função de garantir que todos os educandos tenham a possibilidade de estabelecer o diálogo. (FONAPER, 1998, p. 29)

Além disso, o interculturalismo coaduna-se com a legislação brasileira sobre o Ensino Religioso nas escolas públicas ao promover o respeito e dizer não ao preconceito. A Lei Nº 9.475, de 22 de Julho de 1997, Dá nova redação ao art. 33 da Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), ou seja: O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.” (BRASIL, Online, 2023)

2. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

O problema concreto que se apresenta está relacionado com a discriminação e o preconceito religioso manifestado pelos estudantes de uma turma do 9º Ano do Ensino Fundamental, no contexto escolar de uma determinada escola da Rede Municipal de Educação de Joinville, SC. Essa turma conta com 29 estudantes, sendo a maioria do sexo feminino, ou seja, 18 garotas adolescentes e 11 garotos adolescentes. De acordo com um levantamento quantitativo feito em sala de aula pelo professor de Ensino Religioso com formação em Ciências da Religião, a composição religiosa dos alunos ficou distribuída da seguinte maneira:

DENOMINAÇÃO RELIGIOSA/FILOSÓFICA

QUANTIDADE

Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR

13 Alunos

Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB

04 Alunos

Igreja Universal do Reino de Deus - IURD

03 Alunos

Igreja Evangélica Assembleia de Deus - IEAD

04 Alunos

Igreja Adventista do Sétimo Dia - IASD

01 Aluno

Salão do Reino das Testemunhas de Jeová - SRTJ

01 Aluno

Religião Afro-Brasileira - Candomblé

01 Aluno

Ateísmo

01 Aluno

Elaboração Própria – Tabela do levantamento religioso do 9º Ano do EF de uma escola da Rede Municipal de Educação de Joinville, SC, Brasil.

Como é possível perceber por meio desse levantamento religioso, a turma em questão apresenta uma diversidade religiosa significativa, e o fato da maioria dos estudantes professarem a fé da ICAR, denota claramente a hegemonia histórica dessa religião de matriz cristã no Brasil. Contudo, devido a discriminação e ao preconceito religioso apresentado pela maioria dos estudantes em relação ao Ateísmo e principalmente à religião do Candomblé, foi necessário uma proposta de intervenção pedagógica com foco na Interculturalidade crítica. A discriminação, a intolerância e o preconceito religioso ocorreu por meio de verbalizações em sala de aula, nas quais alguns estudantes disseram em voz alta que quem não acreditava em Deus iria para o inferno e que o Candomblé era uma religião do Diabo. Tais afirmações causaram profunda revolta nos que professavam sua fé no Candomblé e professavam o Ateísmo, bem como em vários colegas que foram solidários. A turma ficou dividida e coube ao professor de Ensino Religioso com formação em Ciências da Religião propor, a partir desse problema, uma atividade pedagógica de intervenção para promover a tolerância, o respeito, o diálogo e a reverência para com o outro e a construção de uma cultura para a paz. Nesse sentido:

O Ensino religioso busca construir, por meio do estudo dos conhecimentos religiosos e das filosofias de vida, atitudes de reconhecimento e respeito às alteridades. Trata-se de um espaço de aprendizagens, experiências pedagógicas, intercâmbios e diálogos permanentes, que visam o acolhimento das identidades culturais, religiosas ou não, na perspectiva da interculturalidade, direitos humanos e cultura da paz. (SANTA CATARINA, 2019, p. 475)

Ainda nessa perspectiva, e considerando o contexto do problema apresentado aqui, FUNIBER (2023) defende a ideia da aplicação da interculturalidade crítica “como uma ferramenta e como processo, um projeto que se constrói pelas pessoas […]”. “Essa interculturalidade defende e exige transformações estruturais, institucionais, e das relações sociais. Ainda que seja uma utopia, para sua realização devem criar-se condições de vida, pensamento, existência, conhecimento, aprendizado e vivências diferentes às atuais. […] Consequentemente, se constrói a perspectiva crítica a partir das pessoas que historicamente tem sido submetidas e subalternizadas”. (FUNIBER, Online, 2023)

3. DESENHO DE INTERVENÇÃO

A intervenção ao problema da discriminação e do preconceito religioso presente na escola, e de maneira mais específica em uma sala de aula do 9º Ano do Ensino Fundamental em uma escola da Rede Municipal de Ensino na cidade de Joinville, SC, Brasil, terá como fundamentação teórica e prática as três perspectivas para a compreensão da interculturalidade, ou seja: 1. Relacional. 2. Funcional. 3. Crítica. Apesar de fazer uma abordagem Relacional e Funcional da Interculturalidade, o enfoque e o objetivo principal será utilizar a interculturalidade crítica como ferramenta, processo e projeto.

[..] como uma estratégia, ação e processo permanente de relação e negociação entre, em condições de respeito, legitimidade, simetria, equidade e igualdade. […] como projeto político, social, ético e epistêmico – de saberes e conhecimentos – que afirma na necessidade de mudar não só as relações, mas também as estruturas, condições e dispositivos de poder que mantém a desigualdade, inferiorização, racialização, discriminação”. (FUNIBER, Online, 2023)

Ainda por esse viés, FUNIBER (2023) expõe que:

[..] O projeto de interculturalidade crítica não se satisfaz com o reconhecimento, a tolerância e incorporação do diferente nas matrizes e estruturas estabelecidas. Sua proposta pretende implodir – desde a diferença – nas estruturas coloniais do poder como direção, proposta, processo e projeto; é reconceitualizar e re-fundar estruturas sociais, epistêmicas e de existências, que põem em cena e em relação equitativa, lógicas, práticas e maneiras culturais diversas de pensar, atuar e viver”. (FUNIBER, Online, 2023)

Diante do exposto, ainda vale ressaltar que: “O Ensino Religioso, como área do conhecimento, visa a formação básica e integral do ser humano e o respeito à diversidade cultural e religiosa presente na sociedade brasileira.” (SANTA CATARINA, 2019, p. 474)

Portanto, para entender melhor o contexto cultural e religioso em que ocorrerá a proposta de intervenção intercultural com critérios das perspectivas relacional, funcional e principalmente crítica da interculturalidade, também é relevante apresentar alguns aspectos da abrangência do objeto de estudo e reflexão do Ensino Religioso nas escolas públicas do Brasil.

De acordo com a BNCC (2017), o Ensino Religioso tem como objeto da área o conhecimento religioso produzido no âmbito das Ciências da Religião, das culturas e das tradições religiosas (indígenas, africanas, afro-brasileiras, judaico, cristã, islâmica, espíritas, hindus, chinesas, japonesas, semitas, movimentos místicos, esotéricos, sincréticos, entre muitos outros), em um intrínseco diálogo com as filosofias de vida, as quais se ancoram em princípios cujas fontes advém de fundamentos racionais, filosóficos, científicos, entre outros. (SANTA CATARINA, 2019, p. 474)

Segundo os princípios elencados até aqui, pode-se pressupor a necessidade de um currículo que atenda as demandas exigidas por uma sociedade cada vez mais plural e repleta de diversidade religiosa, como é o caso da cultura brasileira. Sendo assim, é necessário pensar um modelo de currículo que dê conta das relações interpessoais e da diversidade religiosa presente no âmbito escolar, ou seja, o modelo de currículo pós-crítico. Como muito bem esboçou SCHEMES (2010) ao sintetizar as teorias do currículo apresentadas por SILVA (2001.

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Dessa maneira, é possível perceber que no modelo de currículo pós-crítico predominam as teorias educacionais pós-críticas, as quais enfatizam os aspectos mais relevantes que também permeiam a interculturalidade, ou seja: A importância da Identidade; A prática da Alteridade como ética primeira; A valorização das diferenças e da subjetividade; A importância da significação e do discurso; A relação entre os diferentes saberes e o poder; O impacto da representação; A validação de questões ligadas ao gênero, a sexualidade e a etnia. Desse modo, a educação:

Assume a interculturalidade e a ética da alteridade como fundamentos teóricos e pedagógicos, porque favorecem o reconhecimento e o respeito às histórias, às memórias, às crenças, às convicções e aos valores de diferentes culturas, tradições religiosas e filosofias de vida. (SANTA CATARINA, 2019, p. 474)

Sendo assim, “Metodologicamente, o Ensino Religioso adota a pesquisa e o diálogo interativo como princípios mediadores e articuladores dos processos de observação, identificação, análise, apropriação e ressignificação de saberes.” (SANTA CATARINA, 2019, p. 474)

Nesse sentido portanto, ao falar sobre a importância de uma fundamentação ética para a prática do diálogo de saberes na escola, SCHEMES (2008) afirma que:

O objetivo da educação deve ser o de alcançar a satisfação e a felicidade tendo como fundamento a ética da alteridade e não a coisificação da vida. É imperativa a recuperação da solidariedade humana. Precisamos ser seres humanos íntegros com desejo de construir um mundo melhor. Devemos levar a seguinte reflexão para a educação: Como será este mundo? Será apenas o resultado de um acúmulo de capital? Para um projeto diferente é preciso ressignificar a humanidade e romper a relação do ser com as coisas, buscando recuperar a relação do ser com os diferentes saberes. (SCHEMES, Online, 2008)

Nota-se a partir dos pressupostos apresentados até aqui, a necessidade de uma socialização dos diferentes saberes religiosos, permeada pelo diálogo inter-religioso e pautada pela ética da alteridade. E esse saber coletivo pode ser construído sobre os fundamentos da interculturalidade crítica e mediado pelo professor de Ensino religioso, como propõe o Currículo Base da Educação Catarinense ao preconizar que:

Essa construção e essa socialização de conhecimentos são subsidiadas por meio da mediação do/a professor/a, do compartilhar de experiências entre as/os estudantes, da pesquisa em diversas fontes: Internet, leitura e interpretação de textos, análise de fotos, de objetos simbólicos, arquitetura, filmes, entrevistas com líderes e comunidade, entre tantas outras possibilidades. (SANTA CATARINA, 2019, p. 475)

Assim sendo, a proposta de intervenção envolverá atividades pedagógicas em sala de aula, as quais serão pautadas fazendo uso dos diferentes recursos didáticos apresentados na citação acima. Diante do problema da manifestação de preconceito religioso ocorrido na escola, a intervenção pedagógica ocorrerá tendo como referencial teórico a interculturalidade crítica e envolverá os seguintes critérios para o seu desenvolvimento como apresenta FUNIBER (2023), ou seja: A autoestima e o reconhecimento próprio; Os conhecimentos, os saberes e as práticas locais; A identificação e o reconhecimento das diferenças e da alteridade; Conhecimentos e práticas de outros; A problemática de conflitos culturais […]; Unidade e diversidade; A comunicação, inter-relação e cooperação.

Os critérios metodológicos para uma didática intercultural envolverão enfoques cooperativo, socioafetivo e comunicativo. Todavia, a ênfase das propostas de atividades pedagógicas sugeridas pelo professor estará focada no aspecto socioafetivo, levando em consideração o problema do preconceito e da discriminação religiosa apresentado na sala de aula. Conforme declara FUNIBER (2023), esse enfoque está atrelado com experiências que têm relação com a educação para a paz e o desenvolvimento moral, além de contribuir de maneira positiva na abordagem pedagógica da diversidade cultural e consequentemente da diversidade religiosa presente em sala de aula.

Outro princípio importante da interculturalidade que será aplicado como critério pedagógico no processo das atividades propostas é o princípio da diversificação. Segundo FUNIBER (2023), esse princípio leva em consideração os seguintes aspectos e procedimentos: Organização da sala de aula e dos grupos, os quais podem ser grandes ou pequenos; Técnicas e modalidades de trabalho envolvendo pesquisa, análise, debate, interpretação e exposição; Alternância de materiais de apoio como escritas, audiovisuais, exposições orais, etc; Atividades de aprendizagem diversas com conteúdos diversos; Atividades de avaliação alternadas envolvendo avaliação diagnóstica, de conteúdos e autoavaliação. Ainda na visão de FUNIBER (2023), faz-se necessário alguns critérios para o desenvolvimento da interculturalidade em sala de aula, ou seja: 1. A autoestima e o reconhecimento próprio; 2. Os conhecimentos, os saberes e a práticas locais; 3. A identificação e o reconhecimento das diferenças e da alteridade; 4. Conhecimentos e práticas de outros; 5. A problemática de conflitos culturais, racismo e relações culturais negativas; 6. Unidade e diversidade; 7. A comunicação, inter-relação e cooperação. Basicamente isso significa desenvolver ações ligadas aos critérios pedagógicos, objetivando a incorporação da interculturalidade no contexto educativo. Como explica FUNIBER (2023),


Propiciar o desenvolvimento de atividades que permitam identificar e reconhecer as potencialidades que detém as diferenças a partir com as que nos relacionamos na sala de aula ou na instituição escolar, questionando assim os referentes tradicionais. Propiciar o desenvolvimento de atividades na sala de aula onde cada aluno(a) possa comunicar os seus traços identitários, mesmo como os da família e as sus origens. Favorecer o reconhecimento através do planejamento de atividades didáticas que reflitam as maneiras de conhecer e praticar ações desenvolvidas por outras culturas e regiões, aproveitando as possibilidades de intercâmbio existentes a partir de sua identificação. (FUNIBER, On Line, 2023)


Diante do que foi exposto até aqui, apresentamos a seguir algumas sugestões de atividades pedagógicas de intervenção ao problema do preconceito religioso manifestado na turma do 9º Ano. As atividades serão divididas em sete etapas distintas. Vale lembrar que tais atividades serão norteadas pelos fundamentos teóricos apresentados nesse trabalho, todavia seu principal foco como critério metodológico será o enfoque socioafetivo. A seguir, as etapas propostas são:

1º Etapa – Avaliação Diagnóstica – 1 hora/aula de 45 minutos:

Nessa etapa inicial o professor de Ensino Religioso apresentará aos alunos o resultado final do censo religioso feito com os estudantes e provocará um debate inicial sobre a diversidade religiosa presente em sala de aula. A seguir, solicitará que cada aluno escreva um texto expressando e comunicando em suas próprias palavras o que sabe acerca do Candomblé e em relação ao Ateísmo. O professor recolherá as redações ao final da aula, não sendo obrigatória a identificação.

2º Etapa – Debate Mediado Pelo Professor – 1 hora/aula de 45 minutos:

Nesse segundo momento o professor distribuirá aleatoriamente as redações escritas pelos alunos na aula anterior, de tal maneira que cada aluno receba a redação de outro colega. Em seguida o professor dará um tempo de 10 a 15 minutos para a leitura individual da mesma. Após a leitura o professor perguntará a cada estudante qual foi a principal ideia expressada pelo colega na redação. À medida que os alunos foram verbalizando as ideias o professor anotará as palavras chaves na lousa. Ao final, o professor estimulará um debate sobre o significado das palavras anotadas revelando ideias do senso comum e expressões de preconceito evocadas, e provocando uma reflexão fundamentada na ética da alteridade. Nesse ponto vale lembrar o que diz FUNIBER (2023) sobre o enfoque socioafetivo, o qual pode ajudar a praticar uma didática intercultural, pois favorece a prática educativa da diversidade cultural. Pois um dos argumentos desse enfoque é justamente o processo de socialização nas relações com os iguais, bem como a elaboração de uma comunicação que socialize valores, atitudes, competências e maneira de perceber o outro em seu mundo próprio e em seus grupos socioculturais.

3º Etapa – Pesquisa Científica Dirigida – 1 hora/aula de 45 minutos.

Nesse terceiro momento o professor orientará os estudantes na realização de uma pesquisa científica sobre a religião do Candomblé e sobre o Ateísmo. A pesquisa será realizada em duplas na biblioteca escolar e na sala de informática da escola sob a orientação, supervisão e mediação do professor. Os estudantes também poderão fazer uso de seus celulares para acessar a internet em busca de informações sobre os temas. A pesquisa deverá conter os seguintes elementos sobre o Candomblé e o Ateísmo: 1 – Origem histórica e fundadores. 2 – Principais Crenças e/ou características. 3 – Símbolos e Ritos Sagrados. 4 – Práticas de fé e/ou filosofia de vida. 5. Conclusão pessoal baseada nas informações pesquisadas em forma de resumo.

4º Etapa – Socialização da Pesquisa em Sala de Aula – 1 hora/aula de 45 minutos.

Nesse quarto momento cada dupla de alunos deverá apresentar rapidamente o resumo de sua pesquisa aos demais colegas em sala de aula. Durante as apresentações o professor fará as intervenções necessárias enfatizando a necessidade de uma ética da alteridade e de uma atitude de tolerância, respeito, diálogo e reverência diante do totalmente outro, do diferente. O professor também orientará os estudantes a fazer uma comparação entre suas ideias expressas na redação inicial, baseadas no senso comum e no preconceito, com as novas informações pesquisadas. O professor anotará na lousa as palavras chaves relacionadas com a pesquisa científica e desafiará os estudantes a buscar o conhecimento acumulado históricamente sobre o Candomblé, o Ateísmo e as demais religiões, incluindo a de cada aluno da sala, na tentativa de superação do preconceito e da discriminação religiosa.

5º Etapa – Palestra Com Um Líder Religioso do Candomblé - 1 hora/aula de 45 minutos.

Nessa etapa, o professor entrará antecipadamente em contato com a Associação Nacional das Religiões Afro Brasileiras por meio do site https://www.fnab.com.br/ com o intuito de convidar um líder do Candomblé membro da Associação e que faça parte da comunidade local onde a escola está inserida, para que o mesmo faça uma palestra em sala de aula e responda as perguntas dos estudantes.

6º Etapa – Palestra Com Um Ateu - 1 hora/aula de 45 minutos.

Nessa fase, o professor entrará antecipadamente em contato com a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) por meio do site https://www.atea.org.br/ com o propósito de convidar um Ateu membro da Associação e que faça parte da comunidade local onde a escola está inserida, para que o mesmo faça uma palestra em sala de aula e responda as perguntas dos estudantes.

7º Etapa – Confraternização Entre Estudantes, Líderes Religiosos e Ateu - 1 hora/aula de 45 minutos.

Para o término das atividades propostas o professor organizará uma confraternização em sala de aula envolvendo os palestrantes, os estudantes do 9º Ano e seus convidados. O professor solicitará aos alunos que assim o desejarem, que cada grupo de alunos representado no censo religioso feito em sala de aula, convide seu líder espiritual para participar de um “coquetel” e confraternizar momentos de amizade, solidariedade, diálogo e reverência pelo outro e a diversidade religiosa. Ou seja, um representante institucional dos seguintes segmentos religiosos:

1. Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR

2. Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB

3. Igreja Universal do reino de Deus – IURD

4. Igreja Evangélica Assembléia de Deus – IEAD

5. Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD

6. Salão do Reino das Testemunhas de Jeová – SRTJ

7. Religião Afro-Brasileira – Candomblé

8. Ateísmo

O professor entrará em contato antecipadamente com cada líder religioso indicado pelos grupos de alunos e solicitará que cada qual traga, se assim o desejar, uma lembrança relacionada com sua religião e/ou filosofia, para ser doada aos estudantes. Esse “mimo” pode ser um folheto, uma revista, um livro, um objeto sagrado ou símbolo religioso que expresse sua fé, crenças ou filosofia.

4. AVALIAÇÃO GERAL

Os estudantes serão avaliados por meio de um instrumento de autoavaliação aplicado ao final da sétima etapa das atividades propostas, considerando critérios específicos e a participação em todo o processo de ensino e aprendizagem. Após reflexão, o estudante deverá atribuir uma pontuação para si mesmo levando em consideração cada critério estabelecido na tabela abaixo:

ATIVIDADE

CRITÉRIO

PONTOS

AUTOAVALIAÇÃO

1. Avaliação diagnóstica

Participação e realização da Atividade

10


2. Debate mediado pelo professor

Participação e interação no debate

10


3. Pesquisa científica dirigida

Cooperação e realização da atividade

10


4. Socialização da Pesquisa em Sala de Aula

Participação e apresentação

10


5. Palestra Com Um Líder Religioso do Candomblé

Participação e ética da alteridade

20


6. Palestra Com Um Ateu

Participação e ética da alteridade

20


7. Confraternização entre estudantes, líderes religiosos e ateu.

Participação e ética da alteridade

20




5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República Casa Civil Subchefia Para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9475.htm. Acesso em: 10 de Fevereiro de 2023.

FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso. Editora Ave Maria: São Paulo, 1998.

FUNIBER. Interculturalidade. Disponível em: https://campus2.funiber.org/mod/scorm/player.phpa=8636&currentorg=ORG49820F63C04BE077A080F429A58E974D&scoid=884997&sesskey=fIneucVk4P&display=popup&mode=normal. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2023.

FUNIBER. Multiculturalidade ou Multiculturalismo. Disponível em: https://campus2.funiber.org/mod/scorm/player.phpa=8636&currentorg=ORG49820F63C04BE077A080F429A58E974D&scoid=884997&sesskey=bZtF4YKmAH&display=popup&mode=normal. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2023.

FUNIBER. Pluriculturalidade. Disponível em: https://campus2.funiber.org/mod/scorm/player.phpa=8636&currentorg=ORG49820F63C04BE077A080F429A58E974D&scoid=884997&sesskey=bZtF4YKmAH&display=popup&mode=normal. Acesso em: 09 de Fevereiro de 2023.

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